9.1.18

O MEDO

         O medo de tomar decisões deriva da insegurança. Quanto mais inseguro, mais medrosa é uma pessoa. Medo de errar, medo de perder, medo de fracassar, medo do desconhecido. Vários medos envolvem a tomada de decisão.
          Biologicamente, sentimos medo como reação natural de preservação da vida. Este medo que nos protege é considerado um “medo bom”, visto que a ausência dele nos deixa expostos à condição de risco. Entretanto, quando ele ocorre de forma exagerada ou irracional, pode nos paralisar, acovardar e roubar nossa liberdade de escolha.
          A filosofia do medo – “igual a este você nunca vai achar” – pode até ser bem intencionada, mas não deixa de ser perversa, uma vez que vem embalada de preocupação e desmerece o estado emocional do outro.
          Ficar prisioneiro do medo é uma forma limitada de levar a vida. Ao nos depararmos com uma situação de insegurança é bom refletirmos à luz da sabedoria do escritor americano Mark Twain: “coragem não é a ausência do medo, e sim o enfrentamento dele”. 
          O medo do dia de amanhã impede que se viva o dia de hoje. “A imprevidência é uma das maiores marcas da sabedoria”, escreveu Epicuro.
          O mundo neurótico em que arrastamos nossas pernas trêmulas de receios múltiplos deriva, em grande parte, do foco obsessivo no futuro. E não estamos falando num futuro paradisíaco, mas num amanhã cheio de trevas e riscos e perdas. Há um sofrimento por antecipação cuja única função é tornar a vida mais áspera do que já é.
          Epicuro, como já foi dito, saldou a imprevidência como um gesto essencial de sabedoria. Volto a ele. Epicuro, numa sentença que o tempo fez antológica, disse que nunca é tarde demais e nem cedo demais para filosofar. Para refletir sobre a arte de viver bem, ele queria dizer. Para buscar a tranquilidade da alma, sem a qual mesmo tendo tudo nada temos a não ser medo, medo e medo. Também nunca é tarde demais e nem cedo demais para lutar contra a presença descomunal e apavorante do futuro em nossa vida. O homem sábio cuida do dia de hoje. E basta.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário