27.5.14



Verdades da Profissão de Professor

Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.
A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.
 
Paulo Freire

4.2.14

Filosofia da Educação -I período
TEMAS DE
FILOSOFIA
MARIA LÚCIA DE ARRUDA ARANHA
MARIA HELENA PIRES MARTINS
 
 
CAPÍTULO 6
O conhecimento filosófico
 
Conta à tradição que Diógenes, filósofo grego da escola cínica, século IV a.C., dis­cípulo de Antístenes, aceitando o princípio de que para atingir a verdadeira felicidade é necessário "viver como um cachorro", abandona sua casa e passa a viver em um barril.
Já Euclides, da escola pitagórica, também do século IV a.C, ouviu esta pergunta de um discípulo:
— Mestre, o que ganharei aprendendo geometria?
Como resposta, o famoso geômetra e filó­sofo ordenou a um escravo:
—Dê-lhe uma moeda, uma vez que pre­cisa ganhar algo, além do que aprende.
Essas histórias e muitas outras, que relatam a excentricidade de filósofos antigos e modernos, revelam a imagem mais comum que temos dessas pessoas: são indivíduos com "a cabeça na lua", preocupados com problemas que nada têm a ver com o cotidiano ou com a vi­da prática.
Mas se o filósofo fosse assim, por que, então, condenar Sócrates, na Gré­cia antiga, a morrer bebendo cicuta? Por que proibir a leitura dos livros de Karl Marx?
Talvez a divulgação da imagem do fi­lósofo como sendo uma pessoa "desli­gada" do mundo seja exatamente a de­fesa da sociedade contra o "perigo" que ele representa. Perigo? Que perigo po­de representar um homem que só faz discursos? Que só lida com a palavra?
 
PRIMEIRA PARTE — O que é filosofia
A tarefa da filosofia
 
A filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. A filo­sofia não é um conjunto de conheci­mentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela é, antes de mais nada, uma prática de vida que procura pensar os acontecimentos além da sua pura aparência. Assim, ela po­de se voltar para qualquer objeto. Po­de pensar a ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a re­ligião; pode pensar a arte; pode pen­sar o próprio homem em sua vida coti­diana. Uma história em quadrinhos ou uma canção popular podem ser objeto da reflexão filosófica.
A filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe, critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz-nos en­trever outros mundos e outros modos de compreender a vida.
A filosofia incomoda porque questio­na o modo de ser das pessoas, das cul­turas, do mundo. Questiona as práti­cas política, científica, técnica, ética, econômica, cultural e artística. Não há área onde ela não se meta, não inda­gue, não perturbe. E, nesse sentido, a filosofia é perigosa, subversiva, pois vi­ra a ordem estabelecida de cabeça para baixo.
Podemos, agora, perceber a razão da condenação de Sócrates na Antiguidade ou da proibição da leitura de Karl Marx no Brasil pós-64. Ambos foram (e são, ainda) subversivos, perigosos, pois, ao indagar sobre a realidade de sua época, fizeram surgir novas possi­bilidades de comportamento e de rela­ção social. Do ponto de vista do poder estabelecido, mereceram a morte e/ou o banimento de suas obras.
 
O pensamento filosófico
Quando a filosofia surge, entre os gregos, no século VI a.C, ela engloba tanto a indagação filosófica propria­mente dita quanto o que hoje chama­mos de conhecimento científico. O fi­lósofo teorizava sobre todos os assun­tos, procurando responder não só ao porquê das coisas, mas, também, ao co­mo, ou seja, ao funcionamento. É por isso que Euclides, Tales e Pitágoras são filósofos e dedicam-se também ao es­tudo da geometria. Aristóteles, por sua vez, debruça-se sobre problemas físicos e astronômicos, na medida em que es­ses problemas interessam à cultura e à sociedade de sua época.
É só a partir do século XVII, com Galileu e o aperfeiçoamento do método científico (ver Cap. 7), fundado na ob­servação, experimentação e matematização dos resultados, que a ciência co­meça a se constituir como forma espe­cífica de abordagem do real e a se des­tacar da filosofia. Aparecem, pouco a pouco, as ciências particulares, que in­vestigam a realidade sob pontos de vis­ta específicos: à física interessam os mo­vimentos dos corpos; à biologia, a na­tureza dos seres vivos; à química, as transformações das substâncias; à as­tronomia, os corpos celestes; à psico­logia, os mecanismos do funcionamen­to da mente humana; à sociologia, a or­ganização social etc.
O conhecimento é fragmentado en­tre as várias ciências, pois cada uma se ocupa somente de uma pequena parte do real. As afirmações de cada uma de­las são chamadas juízos de realidade, uma vez que se referem aos fenômenos e pretendem mostrar como estes ocor­rem e como se relacionam com outros fenômenos. De posse desses dados so­bre o funcionamento dos fenômenos naturais e humanos, torna-se possível prevê-los e controlá-los.
A filosofia trata dessa mesma reali­dade, mas, em vez de fragmentá-la em conhecimentos particulares, toma-a co­mo totalidade de fenômenos, ou seja, considera a realidade a partir de uma visão de conjunto. Qualquer que seja o problema, a reflexão filosófica consi­dera cada um de seus aspectos, relacionando-o ao contexto dentro do qual ele se insere e restabelecendo a in­tegridade do universo humano. Do ponto de vista filosófico, por exemplo, é impossível considerar a inflação bra­sileira somente a partir de princípios econômicos. É preciso relacioná-la com interesses de classes, interesses políti­cos, interesses sociais. Um país econo­micamente instável é um país política e socialmente instável. À ciência econô­mica interessa somente verificar como a inflação funciona para poder controlá-la, sem se incomodar com os reflexos que esse controle possa ter sobre a sociedade.
É por isso que, sem desmerecer o co­nhecimento especializado buscado pe­las várias ciências, defendemos a neces­sidade da reflexão filosófica, reflexão es­ta que faz a crítica dos fundamentos de conhecimento e da ação humanos. Ca­be ao filósofo refletir sobre o que é ciên­cia, o que é método científico, sua vali­dade e limites. A ciência é realmente um conhecimento objetivo? O que é a objetividade e até que ponto um sujei­to histórico — o cientista — pode ser ob­jetivo? Cabe ao filósofo, também, refle­tir sobre a condição humana atual: o que é o homem? o que é liberdade? o que é trabalho? quais as relações entre homem e trabalho? etc. Nem mesmo a escola foge ao crivo da reflexão filosó­fica: para que exista, é necessário que partamos de uma visão de homem co­mo ser incompleto, portanto educável. Para sobreviver, os animais não preci­sam ser educados, pois guiam-se pelos instintos. Só os "educamos", isto é, domesticamos, para acomodá-los às nos­sas necessidades humanas. O caso dos homens é diferente. Mas para que o ser humano é educado? Para o pleno exer­cício da liberdade e da responsabilida­de ou só para se manter dentro da or­dem estabelecida? Em outras palavras, educamos para que cada homem saiba pensar por si próprio ou para que sai­ba aceitar as regras que outros pensa­ram para ele?
A filosofia quer encontrar o signifi­cado mais profundo dos fenômenos. Não basta saber como funcionam, mas o que significam na ordem geral do mundo humano. A filosofia emite juí­zos de valor ao julgar cada fato, cada ação em relação ao todo. A filosofia vai além daquilo que é, para propor como poderia ser. É, portanto, indispensável para a vida de todos nós, que deseja­mos ser seres humanos completos, ci­dadãos livres e responsáveis por nos­sas escolhas.
Assim, o filosofar é uma prática que parte da teoria e resulta em outras teorias.
 
Características do pensamento filosófico
O trabalho do filósofo é refletir so­bre a realidade, qualquer que seja ela, descobrindo seus significados mais profundos.
Como isso é feito?
Em primeiro lugar, vamos estabele­cer o que é a reflexão. Refletir é pen­sar, considerar cuidadosamente o que já foi pensado. Como um espelho que reflete a nossa imagem, a reflexão do filósofo deixa ver, revela, mostra, tra­duz os valores envolvidos nos aconte­cimentos e nas ações humanas.
Para chegar a essa revelação, a refle­xão filosófica, segundo Demerval Saviani, deve ser:
Radical — ou seja, chegar até a raiz dos acontecimentos, isto é, aos seus fundamentos; à sua origem, não só cro­nológica, mas no sentido de chegar aos valores originais que possibilitaram o fato. A reflexão filosófica, portanto, é uma reflexão em profundidade.
Rigorosa — isto é, seguir um mé­todo adequado ao objeto em estudo, com todo o rigor, colocando em ques­tão as respostas mais superficiais, co­muns à sabedoria popular e a algumas generalizações científicas apressadas.
De conjunto — como já foi dito an­teriormente, a filosofia não considera os problemas isoladamente, mas dentro de um conjunto de fatos, fatores e va­lores que estão relacionados entre si. A reflexão filosófica contextualiza os pro­blemas tanto verticalmente, dentro do desenvolvimento histórico, quanto ho­rizontalmente, relacionando-os a outros aspectos da situação da época.
Assim, embora os sistemas filosófi­cos possam chegar a conclusões diver­sas, dependendo das premissas de par­tida e da situação histórica dos próprios pensadores, o processo do filosofar será sempre marcado por essas característi­cas, resultando em uma reflexão rigo­rosa, radical e de conjunto.
 
 
Ceticismo e dogmatismo em filosofia
A partir do que foi colocado, perce­bemos que para filosofar não podemos manter nem uma atitude cética nem sua contrapartida, uma atitude dogmática perante o mundo e o conhecimento hu­mano. Se, de um lado, necessitamos de certezas, de conhecimento válido para orientar nossas ações, de outro, sabe­mos que essas certezas fazem parte de momentos históricos, de pontos de vis­ta a partir dos quais analisamos o nos­so estar no mundo.
 
 
O ceticismo
O cético, no sentido comum, é aque­le que desconfia de tudo, que não acre­dita nas possibilidades que estão a sua frente. Por exemplo, alguns alunos, no início do segundo semestre letivo, dian­te do seu mau desempenho escolar, tornam-se céticos com relação à possi­bilidade de aprovação e não se esfor­çam mais.
Do ponto de vista filosófico, porém, dá-se o nome de ceticismo à corrente de pensamento que duvida de toda e qualquer possibilidade de se chegar ao conhecimento verdadeiro.
Por exemplo, Montaigne, filósofo francês do século XVI, partindo da idéia de que toda verdade é relativa à épo­ca, ao contexto histórico e à situação pessoal de cada um, afirma que o ho­mem deve renunciar à pretensão de chegar a qualquer certeza. Não há pos­sibilidade sequer de saber se as sensa­ções são reais ou imaginadas. Assim sendo, os homens devem abster-se de emitir qualquer juízo, uma vez que to­da afirmação é passível de dúvida.
Para o cético, portanto, o sujeito é in­capaz de apreender o objeto de conhe­cimento.
Na sua forma menos radical, o ceti­cismo apresenta-se como probabilida­de, isto é, embora seja impossível ter a certeza de que os juízos estão de acor­do com a realidade, pode-se afirmar a probabilidade de que estejam.
A atitude cética é típica das épocas de crise, quando verdades estabeleci­das são destruídas sem que se tenha, ainda, estabelecido novos princípios so­bre os quais fundamentar o conheci­mento e as ações. Nesses momentos, coloca-se tudo em dúvida, examinam-se todas as certezas, opiniões e crenças, numa busca de solo seguro sobre o qual erigir uma nova construção de saber.
Na filosofia moderna, o ceticismo se manifesta através do empirismo de Hume, filósofo escocês do século XVIII, que, como veremos mais adiante, afir­ma que, na impossibilidade de conhe­cer as coisas em si, o homem se baseia na crença ou no hábito para poder agir.
O ceticismo, ainda, inspira a atitude crítica e questionadora da filosofia con­temporânea, colocando questões sobre a relatividade do conhecimento e os li­mites da razão.
 
O dogmatismo
No senso comum, o dogmático, por outro lado, é a pessoa que acredita ter a posse da verdade e se recusa ao diá­logo, não admitindo nenhum questio­namento de suas certezas. Muitas ve­zes, os pais são dogmáticos e recusam-se a colocar em discussão certas regras que, para eles, são as únicas verdadei­ras e corretas.
Em filosofia, entretanto, dá-se o no­me de dogmatismo à doutrina ou ati­tude que afirma, de forma absoluta, a capacidade humana de chegar a verda­des seguras, através do uso exclusivo da razão. É essa mesma crença cega na razão que faz com que o dogmático não admita discussões.
Do ponto de vista histórico, o dog­matismo é a atitude dos primeiros filó­sofos, os chamados pré-socráticos, que têm como certo o poder de conhecer a realidade tal qual ela é. Os sofistas são os primeiros a problematizar a questão da verdade do conhecimento. Entretan­to, é com Kant, no século XVIII, que a denominação dogmatismo passa a as­sumir conotação mais específica. Se­gundo ele, dogmatismo é toda e qual­quer posição que acredite estar na posse da certeza, ou da verdade, antes de fa­zer a crítica da faculdade de conhecer. O "criticismo" kantiano só se define em oposição aos dois perigos inversos: o empirismo (que tem um tanto de ce­ticismo) e o dogmatismo.
                                                 
 
EXERCÍCIOS
1. Levante, de acordo com o texto, as características do conhecimento filosófico.
2. Resuma, em palavras suas, o que é a atitude cética e o que é ceticismo em filosofia. A partir de sua experiência de vida, procure exemplos de atitudes céticas.
3. Resuma, em palavras suas, o que é a atitude dogmática e o que é dogmatismo em filosofia. A partir de sua experiência de vida, cite um exemplo de atitude dogmática.
4. "Cabe a um filósofo ocupar um posto retirado. Um filósofo é a consciência, culpada, cheia de vergonha, de uma sociedade. Parece-me que o filósofo moderno deve ser um pária, um malsucedido, e seria um péssimo sinal, para ele, ser coberto de glória." (René Garrigues.)
a) Explique por que o filósofo deve ocupar um posto retirado, discutindo o conceito de "retirado"
b) Por que o filósofo encarna a consciência culpada da sociedade?
c) Em que sentido o fato de ser bem-sucedido é um péssimo sinal para o filósofo?
5. "É próprio da filosofia o movimento pelo qual, não sem esforços e apalpadelas e so­nhos e ilusões, nos desembaraçamos daquilo que tomamos por verdadeiro e procura­mos outras regras para o jogo. É próprio da filosofia o deslocamento e a transforma­ção dos esquemas do pensamento, a modificação dos valores adquiridos e todo o tra­balho que se faz para pensar de outro modo, para fazer outra coisa, para tornar-se diferente daquilo que se é. Desse ponto de vista, os últimos trinta anos vêm sendo um período de atividade filosófica intensa. A mútua interferência entre a análise, a pesquisa, a crítica 'erudita' ou 'teórica' e as mudanças no comportamento, na condu­ta real das pessoas, em sua maneira de ser, em sua relação consigo mesmas e com os outros foi constante e considerável." (O filósofo disfarçado. In Filosofias: entrevistas do te Monde. São Paulo, Ática, 1990. p. 26.)
a) Discuta a atividade filosófica em face do "ser" e do "poder ser".
b) Mostre a relação entre filosofia e vida, por meio desse texto.
c) Discuta, a partir desse texto, as atitudes cética e dogmática em filosofia.
6. A partir dos textos de leitura complementar de Jaspers (texto 1) e de Bencivenga (texto 2), faça uma dissertação sobre "O que é filosofia".
 

3º MB

Trabalho, Realização e consumo.
O que é trabalho?
O conceito de trabalho é formado por elemento teológico que teve influência no ocidente greco-romano-helenista chegando até os nossos dias. Como mostra o Livro do Gênesis (3, 17); depois de pecar o homem foi amaldiçoado, ficando condenado a extrair seu sustento do suor, do cansaço, do labor de seu trabalho: “comederes maledicta terra in opere tuo in laboribus comedes eam cunctis diebus vitae tuae”.

A concepção de trabalho sempre esteve predominantemente ligada a uma visão negativa. Na Bíblia, Adão e Eva vivem felizes até que o pecado provoca sua expulsão do Paraíso e a condenação ao trabalho com o “suor do seu rosto”. A Eva coube também o “trabalho” do parto.
O termo trabalho é originário do latim tripalium, que designa instrumento de tortura. Por extensão, significa aquilo que fatiga ou provoca dor.  Na etimologia da palavra trabalho, ou (tripalium), do Latim, um instrumento romano de tortura, espécie de tripé formado por três estacas cravadas no chão, onde eram supliciados os escravos. "tri" (três) e "palus" (pau) - literalmente, "três paus". Daí o verbo tripaliare (ou trepaliare), que significava, inicialmente, torturar alguém no tripalium.
Será que trabalhar é uma condição essencial ao homem? Ou o homem só trabalha por necessidade e pela ameaça de extinção se não trabalhar?
 
O Trabalho na antiguidade
Dizia Aristóteles, sobre o trabalho: “Todos aqueles que nada têm de melhor para nos oferecer que o uso de seu corpo e dos seus membros é condenado pela natureza à escravidão. É melhor para eles servir que serem abandonados a si próprios. Numa Palavra, é naturalmente escravo quem tem tão pouca alma e tão poucos meios que deve resolver-se a depender de outrem […] O uso dos escravos e dos animais é aproximadamente o mesmo.”(RIBEIRO, L. p.196).
Na cultura grega, cabia aos cidadãos a organização e o comando da polis. As funções dos escravos eram restritas à atividades inferior de transformação da natureza em um bem determinado pelas camadas superiores.
Em Roma, permaneceu a divisão entre a arte de governar e o trabalho braçal. Sendo o império fundado na escravidão, o trabalho braçal era visto como degradante e destinados aos povos dominados, tidos como seres inferiores.
 
O Trabalho na economia de mercado
No capitalismo o trabalho se transforma em valor de troca onde o homem vende sua força de trabalho para realizar a reprodução social – consumir e produzir. É um trabalho alienado onde o trabalhador não se reconhece naquilo que produz, não domina todo o processo de produção. O trabalhador não é o dono dos meios de produção e de trabalho, estes pertencem ao capitalista, que se baseia no lucro e na mais-valia, ou seja, no excedente do trabalho humano, que não é repassado ao trabalhador.

Ocorreu a separação entre o trabalhador e a propriedade dos meios de produção. Desse modo podemos afirmar que a essência do sistema capitalista encontra-se na separação entre o capital e o trabalho.

No século XVII, Pascal inventa a primeira máquina de calcular; Torricelli constrói o barômetro; aparece o tear mecânico. A máquina exerce tal fascínio sobre a mentalidade do homem moderno que Descartes explica o comportamento dos animais como se fossem máquinas, e vale-se do mecanismo do relógio para explicar o modelo característico do universo (Deus seria o grande relojoeiro!).

Para
Kant, o homem é o único animal voltado ao trabalho. É necessária muita preparação para conseguir desfrutar do que é necessário à sua conservação. Mesmo que todas as condições existissem para que não houvesse necessidade do homem trabalhar, este precisa de ocupações, ainda que lhe sejam penosas. A ociosidade pode ser ainda um maior tormento para os homens.

Michel Foucault tem outra perspectiva: em todos os momentos da história, a humanidade só trabalha perante a ameaça de morte, qualquer população que não encontre novos recursos está voltada à extinção e, inversamente, à medida que os homens se multiplicam, empreendem trabalhos mais numerosos, mais difíceis e menos fecundos. O trabalho deve crescer de intensidade quanto maior for à ameaça de morte e, por todos os meios, terá de se tornar mais rentável, quanto menos acesso as subsistências existirem.

Para
Marx, o trabalho é o prolongamento da atividade natural do homem, mais tarde conclui que a força de trabalho é uma mercadoria e que, para viver, o proletário vende ao capital.

Segundo Marx, o trabalho denuncia uma exploração econômica e uma situação em que o homem não se revê no seu trabalho mecanizado e repetitivo, ou seja, não obtém a realização profissional que deveria obter, referindo-se a uma essência do homem que seria suposto o trabalho completar.

Consumismo: felicidade maquiada
A Propaganda vende felicidade ou infelicidade?
Através de meios de comunicação como rádio, televisão, jornais, revistas, outdoors, internet, entre outros, a mídia tem realizado o seu trabalho de convencer as pessoas a consumir. Para isso utiliza-se de artistas famosos que incitam o público a comprar os produtos. O homem cresce vivenciando esse mundo manipulado pela mídia, e acreditando que a felicidade possa ser encontrada quando se adquire determinada marca de roupa, calçado, carro, jóia, celular, entre outros. Divulga-se a ideia da felicidade comprada. O papel da propaganda é nos deixar infelizes com que temos e criar o desejo de possuir o novo para ser feliz.

O indivíduo que cresce nesse ambiente consumista dificilmente aprende valores subjetivos que o edificam como ser pensante e emotivo. Decorre disso a dificuldade de se preencher o vazio interior, o que é buscado no consumo de bens concretos e superficiais. Tais bens são dispensáveis à felicidade? Difícil saber. Eles trazem a realização pessoal buscada pelo homem?

Jonh Locke
, disse que, ao vivermos em sociedade, somos de certa forma obrigada a nos moldar a seus contornos. Vivemos em uma sociedade capitalista, uma sociedade em que o consumo desenfreado parece ser a cada dia mais comum, seguindo uma lógica como: "compro, logo existo". As pessoas perderam sua individualidade, são agora simplesmente consumidores.

Agora, na era da informática, esse consumo foi até facilitado, por meio da internet. No cotidiano, o consumismo é estimulado e vendido como felicidade.


1) O que é a realização humana?
2) O que é o trabalho?
3) De que forma a realização humana pode estar relacionada positivamente ao trabalho?
4) Todo o trabalho humano pode ser considerado fonte de realização? Justifique.
5) Explique porque o trabalho já possuía uma visão de punição no Antigo Testamento.
6) Explique porque, muitas vezes, há conflitos entre o trabalho e a realização humana.
7) Como era compreendido o trabalho na Antiguidade greco-romana?
8) De que forma Aristóteles justifica a escravidão?
9) Que importância tinha o ócio às culturas grega e romana?
10) Como era compreendido o trabalho no período medieval?
11) Que diferenças podem ser apontadas entre as justificativas sobre o trabalho braçal na Antiguidade e na Idade Média?
12) De que forma a economia de mercado compreendia o traba
lho?




A história do trabalho

 O início
No passado, o homem trabalhava para produzir o que consumia, seja em roupas, alimentos ou moradia.
Ao constituir as primeiras sociedades, ou povos, o trabalho era recompensado por mercadorias (escambo), como uma espécie de troca.
Até então, era possível obter um trabalho através de uma simples conversa, sem exigir qualquer tipo de documentação ou comprovação de experiência anterior.

O trabalho escravo

Com a introdução da pirâmide social, aos menos favorecidos, foram atribuidos trabalhos sem remuneração, e em geral sequer recebiam em contrapartida, moradia e alimentação para a sua subsistência.
Predominavam os deveres do trabalhador, sem direito algum.



Trabalho formal
Com a chegada da industrialização, a partir do século XVIII e XIX, foi criado o trabalho formal, onde eram definidas as tarefas e a remuneração devida.

O contrato de trabalho

No século XX, foi instituído o contrato de trabalho, contendo regras que regem os direitos e deveres entre patrões e empregados.
Criou-se então, as primeiras classes trabalhadoras, com a classificação em cargos, funções, atribuições e salários.

A CLT

No Brasil, mais especificamente no Governo de Getúlio Vargas, foi instituída a maior legislação trabalhista do País, a CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas, representada pela popular carteira de trabalho, onde o trabalhador brasileiro passou a ser reconhecido pelos seus direitos, além de receber benefícios como férias, décimo terceiro salário, FGTS, aposentadoria, entre outros.
Foi uma solução para garantir um sustento mínimo para as necessidades do trabalhador e de sua família, frente ao capitalismo selvagem voltado a vida de consumo crescente.


Notas:
05/07/1962 - Introduzido o 13º salário
13/09/1966 - É criado o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço)



Terceirização
A partir de 1980, diante de um mercado competitivo, as empresas passaram a atuar com foco dirigido tão somente ao negócio.

Todas as outras atividades, consideradas de apoio, foram trasferidas paulatinamente para empresas externas, processo esse denominado de terceirização.
Isso resultou em um deslocamento da mão-de-obra das empresas para as chamadas consultorias externas ou empresas de prestadora de serviços.

O trabalho informal
Diante de um mercado recessivo, com muito mais demissões que contratações, surgiu o trabalho informal, através de serviços sem documentação ou qualquer tipo de registro.
Embora sem direitos ou garantias do amanhã, para muitos foi a única saída.

Cooperativismo
Devido ao aumento da classe trabalhadora sem registro em carteira, muitos com os chamados de "contratos de gaveta", e até com vínculo informal, foi constituído um novo setor na absorção da mão de obra, o das cooperativas de trabalho.


É uma forma de contratação oficial, através da própria carteira de trabalho, onde o trabalhador contratado por uma determinada cooperativa fica lotado na empresa contratante dos serviços desta.
Todo tipo de vínculo, sejam documental, direitos, deveres ou benefícios é entre o trabalhador e a cooperativa.

Qualificação no trabalho
Com o surgimento do computador, e o crescente uso da tecnologia no trabalho, ela (a tecnologia) tem auxiliado e até substituído o homem em muitas de suas tarefas.
Assim, o trabalho no mundo moderno exige cada dia mais uma qualificação do trabalhador.
Aqueles que não conseguem a qualificação exigida, estão a mercê do desemprego.
Trata-se de um realidade cruel.


 
2º MB
Parte inferior do formulárioFilosofia
Amor
O amor é a preocupação ativa pela vida e crescimento daquilo que amamos. Onde falta essa preocupação ativa não há amor.     O amor é uma atividade, e não um afeto passivo; é um “erguimento” e não uma “queda”. De modo mais geral, o caráter ativo do amor pode ser descrito afirmando-se que o amor, antes de tudo, consiste em dar , e não em receber.     Que é dar? Embora pareça simples a resposta a esta pergunta, ela em verdade é cheia de ambiguidades e complexidades. O equívoco mais vastamente espalhado é o que entende que dar é “abandonar” alguma coisa, ser privado de algo, sacrificar. A pessoa cujo caráter não se desenvolveu além da etapa da orientação receptiva, explorativa, ou amealhadora, experimenta o ato de dar dessa maneira. Dar é mais alegre do que receber; não por ser uma privação, mas porque, no ato de dar, encontra-se a expressão de minha vitalidade.     Na esfera humana, que dá uma pessoa a outra? Dá a si mesma, do que tem de mais precioso, dá de sua vida. Isto não quer dizer sacrificar sua vida por alguém, mas  que lhe dá aquilo que em si tem de vivo; dê-lhe a sua alegria, de seu interesse, de sua compreensão, de seu conhecimento, de seu humor, de sua tristeza – de todas as expressões e manifestações daquilo que vive em si. Dando assim de sua vida, enriquece a outra pessoa, valoriza-lhe o sentimento de vitalidade ao valorizar o seu próprio sentimento. Não dá a fim de receber; dar é, em si mesmo, requintada alegria. Mas, ao dar, não pode deixar de levar alguma coisa à vida da outra pessoa, e isso que é levado à vida reflete-se de volta no doador; ao dar verdadeiramente, não pode deixar de receber o que lhe é dado de retorno. Dar implica fazer da outra pessoa também um doador e ambos compartilham da alegria de haver trazido algo à vida. No ato de dar, nasce algo, e ambas as pessoas envolvidas são gratas pela vida que para ambas nasceu. O amor é uma força que produz amor; impotência é a incapacidade de produzir amor.     Além do elemento de dar, o caráter ativo do amor torna-se evidente no fato de implicar sempre certos elementos básicos, comuns a todas as formas de amor. São eles: cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento.

A NECESSIDADE DO AMOR.
Ao tomar Conhecimento de si mesmo como ser capaz de consciência e liberdade o homem percebeu sua diferença em relação ao restante da natureza. Passou a sentir a solidão que acompanha a individualidade. Ser um tomar decisões e responder pela vida são fatos que provocam um sentimento doloroso de abandono e desamparo, só superado na relação com o Outro. Veja como Erich Fromm descreve esse estado:
"O homem é dotado de razão; é a vida consciente de si mesma; tem consciência de si e de seus semelhantes, de seu passado e das possibilidades de seu futuro. Essa consciência de si mesmo como entidade separada, a conscIência de seu próprio e curto período de vIda, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter de morrer contra sua vontade, de ter de morrer antes daqueles que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua impotência ante as forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz de sua existência apartada e desunIda uma prisão insuportável. Ele ficaria louco se não pudesse libertar-se de tal prisão e alcançar os homens, unir-se de uma forma ou de outra com eles, com o mundo exterior. "
Dessa necessidade de união nasce o amor. O amor é, pois, o meio procurado e desenvolvido pelo homem para vencer o isolamento e escapar da loucura.
O amor é fundamental para o homem e para a sociedade. Sem amor, o homem torna-se árido, incapaz de encantar-se com a vida e de envolver-se com os outros. Não se sensibiliza com o abandono dos velhos, a morte das crianças, a miséria do povo, a poluição e a destruição do Planeta, o roubo da cidadania, a morte dos ideais. Sem amor não há encontro, não há diferença; resta a escuridão do individualismo, do ser incapaz de relação.
O que é o amor
Muitas pessoas confundem o amor com a paixão. Quando estão apaixonadas, julgam estar amando. O amor, porém, é uma vivência mais ampla, é um modo de ser, de viver, que se conquista gradualmente, à medida que se desenvolve a sensibilidade para com as outras pessoas. É a capacidade de descentrar-se, sair de si, ir ao encontro do outro, em uma atitude de zelo e respeito que nada quer em troca.
Amar é preservar a identidade e a diferença do outro, sem perder a sua. É estar comprometido com a realização do outro, é querer seu bem.
O amor é uma força de aproximação, união, envolvimento e responsabilidade. Ela dinamiza a vida que existe nas pessoas. Derruba fronteiras, estabelece contatos, partilha.
Ser amoroso é uma característica da personalidade e pressupõe toda uma vivência desde o seio materno. Só quem recebeu amor é capaz de amar.
A capacidade de amar pode expandir-se e atingir um envolvimento e um compromisso com todos os seres vivos e até mesmo com seres inanimados. Os movimentos ecológicos atestam gestos de amor de pessoas que lutam pela preservação da fauna, da flora, das águas e do ar.
No amor há a percepção da inter-relação universal, da fraternidade humana e cósmica.

Formas de amor
O amor é uma vivência que se manifesta de várias maneiras: amor materno, amor paterno, amor pela pátria, amor a si mesmo, amor erótico, amor a Deus, amor fraterno, amor pela natureza, etc. Aqui nos limitaremos a tratar do amor erótico e do amor fraterno.

Amor erótico
Quando se fala em amor, pensa-se logo no amor erótico, na relação homem-mulher, porque essa forma de amor envolve o desejo, a busca de fusão e desenvolvimento a dois.
O amor erótico pode ser compreendido nos planos biológico, psicológico e filosófico.
Biologicamente, consiste na relação sexual e na procriação. Essa energia biológica manifesta-se, psicologicamente, em erotismo. Filosoficamente, exprime-se como busca de unidade, totalidade e comunicação.
E o que é erotismo? É a transformação da energia sexual, biológica, em energia psíquica, ampliando consideravelmente a sexualidade. O homem é ao mesmo tempo corpo e psiquismo. As solicitações do corpo expressam-se também de maneira psíquica, produzindo um progressivo desdobramento da sexualidade, que passa a manifestar-se em vivências que aparentemente nada têm a ver com ela, como, por exemplo, na arte, na ciência, no trabalho, na política e no envolvimento prazeroso com as pessoas e com o mundo.
O amor erótico é muito forte, porque pressupõe o retorno do sentimento vivido: é um dar e receber que se manifesta no prazer da convivência com o outro sexo tanto no plano físico quanto no psicológico.
O amor erótico quer exclusividade, porque os amantes pretendem ser únicos um para o outro, e reciprocidade, pois buscam alimentar um no outro o amor que sentem.

Amor fraterno
O amor fraterno é o amor entre irmãos. O envolvimento fraterno estende-se à humanidade como um todo. Como em qualquer outra forma de amor, a base do amor fraterno é o amor a si mesmo. A frase bíblica "Ama o teu próximo como a ti mesmo" e a frase socrática "Conhece-te a ti mesmo" atestam secularmente esse fundamento. Por reconhecer-se como um ser dotado de valor e dignidade é que o homem pode perceber no semelhante características similares que o levam a admirá-Io e a amá-Io como a um igual.
O amor fraterno possibilita a solidariedade e a compaixão, buscando o desenvolvimento integral do homem, sua libertação, sua autonomia. É próprio desse amor não haver dominador nem dominado. Sua principal característica é o compromisso com o outro. E, por solidarizar-se com o outro, vendo, nele um irmão, essa forma de amor possui uma conotação política: não permite a segregação e a discriminação por raça, cor, sexo, credo, nacionalidade. E movida pelo desejo de justiça, igualdade de oportunidades e efetivação da dignidade humana: ama a todos sem exclusividade.

O MICROCOSMO DO AMOR.

A RELAÇAO HOMEM–MULHER

O amor é suplementar
Em tudo o que se observa na natureza, percebem-se as forças de atração e repulsão. No átomo, por exemplo, a força de atração o mantém em permanente movimento em direção a outro átomo, na busca eterna de novas combinações moleculares.

Nas plantas, a força atrativa explode nas cores e perfumes das flores, preparando-se para a geração dos frutos e sementes.

Entre os animais, essa força se expressa em rituais, danças e disputas que culminam no acasalamento. No animal, a função sexual é instintiva; no homem, ela se transforma em erotismo. Um exemplo notável dessa transformação encontra-se no filme A guerra do fogo. Em determinado momento, o hominídeo, que tomava sua fêmea em um ritual ainda animal, é surpreendido por ela: ao girar sobre si mesma, coloca-se numa nova posição, face a face com seu parceiro, fitando-o nos olhos. No filme, esse gesto simboliza o primeiro passo para a humanização da relação homem-mulher. Representa o abandono da genitalidade, do puro instinto, e a conquista da sexualidade erótica. A mulher, com esse gesto, posiciona-se como igual ao homem; são parceiros, companheiros que se enriquecem no convívio mútuo: igualdade humana e diferença de sexos.

A beleza da relação homem-mulher está no encontro de seres autônomos e independentes em que não há superior e inferior. Muitos homens apegam-se de tal forma a mulheres, e vice-versa, que acabam criando relações imaturas, em que a necessidade e a dependência fragilizam a união. Um procura no outro o que lhe falta ou o que gostaria de ser, em lugar de desenvolver ao máximo suas próprias potencialidades. O amor é, então, apenas complementar, quando na verdade deveria ser suplementar.

Narcisismo
Uma sociedade que reforça o individualismo cria condições para a manutenção indefinida do egocentrismo infantil, gerando, com isso, um comportamento patológico e doentio: o narcisismo.
A psicologia distingue duas formas de narcisismo: o primário e o secundário. No narcisismo primário, a criança nos primeiros meses de vida não se distingue do mundo exterior. Forma uma unidade tão completa com a mãe, que não percebe que as necessidades, as carências, estão dentro dela, enquanto a fonte de satisfação está fora, na mãe. Unida com a mãe, sente-se um ser completo e feliz. Aos poucos, começa a perceber que ela é uma pessoa e a mãe, outra. Toma consciência de sua dependência do mundo exterior para a satisfação de suas necessidades. Rompido o vínculo narcisista primário, a criança terá um desenvolvimento satisfatório.
Quando esse rompimento é doloroso e insatisfatório, tem-se o narcisismo secundário. A criança, e mais tarde o adulto, irá fantasiar um pai ou uma mãe onipotentes que se confundirão com seu próprio eu. Imaginar-se-á poderosa e sem necessidade dos outros. Superestimará seu próprio eu (mãe ou pai idealizados) e ficará envaidecida com sua pseudoperfeição. Não poderá, então, interessar-se de verdade pelos outros, simplesmente os usará quando servirem para o enaltecimento de seu "poder" e de suas "qualidades".

O amor e a sociedade narcísica.
O narcisismo revela a incapacidade de relação amorosa autêntica. O narcisista só se interessa por quem alimenta a imagem engrandecida e envaidecida que ele faz de si mesmo-o eu idealizado, narcísico. Como esse eu não corresponde a nenhuma pessoal real, as relações narcísicas são superficiais e insatisfatórias. O narcisista é contraditório: precisa do outro para manter sua autoimagem, mas não consegue relacionar-se amorosamente com ele.
A sociedade contemporânea, individualista, sem espírito comunitário e dependente do consumo, desenvolve condições para que o narcisismo aflore. As propagandas investem nos indivíduos, alisando-lhes o ego e tratando-os como onipotentes e merecedores de ver todos os seus desejos satisfeitos.


A pessoa se sente engrandecida, à medida que adquire e possui coisas. Não admite mais as frustrações da vida, reagindo a elas de maneira infantil e destrutiva. A insatisfação permanente, gerada pela impossibilidade de ter os desejos satisfeitos, segundo as promessas do sistema, torna as pessoas agressivas e violentas. A violência é a outra forma da onipotência.
Na sociedade narcísica, quase não há mais lugar para valores como justiça, honestidade e integridade. Vigora a lei do mais esperto, que procura levar vantagem em tudo. Os membros dessa sociedade comportam-se como se estivessem diante das câmeras, representando, buscando o melhor ângulo, exibindo o melhor sorriso, caprichando na performance, porque outra característica da personalidade narcísica é a necessidade constante da admiração alheia. Os elogios dos outros funcionam como um espelho em que o narcisista vê a sua própria imagem refletida. Tudo nessa sociedade transforma-se em espetáculo, inclusive a política.
O desejo permanente de fama, sucesso e beleza levam os indivíduos a temer e rejeitar a velhice; por isso, a eterna juventude é glorificada e a velhice, execrada. Envelhecer é crime.
Na sociedade narcísica, as pessoas são vazias, incapazes de relações profundas e verdadeiras. Daí a quase impossibilidade de amor entre elas. Não deixa de ser sintomático o surgimento da expressão "ficar com alguém". Fique, ao contrário de amar, é o verbo da moda.

O AMOR É UM APELO

Vida sem amor é morte, porque só o amor pode criar o homem como sujeito, dando origem ao mundo humano.

O homem é um fazer-se constante, é projeto aberto ao futuro. E o amor é o apelo que o outro me lança para considerá-lo como sujeito, como autor de sua própria vida, que deseja comigo construir o inédito, o novo, que seria impossível criar sozinho. É do encontro entre sujeitos que se fazem as relações suplementares.

Os demais seres estão no mundo como objetos, como coisas, e as coisas são determinadas pela soma de suas características. Considerar o outro como a soma de suas qualidades e defeitos, como algo pronto e acabado, é enquadrá-Io como objeto e ignorar suas possibilidades. É assim que se pode rotular o outro e vê-Io como "prostituta"., "homossexual", "pobre", ..ignorante", "mulher", "negro", "ladrão", "criminoso", não respondendo ao olhar que ele lança ao âmago de meu ser para que eu seja com ele.

Amar é possibilitar ao outro e a mim mesmo o exercício da liberdade criadora do próprio ser. 0 amor transforma um ser coisificado, humilhado, oprimido, em um sujeito, pleno de possibilidades.
Se meu olhar pudesse ver no outro não aquilo que a vida e a sociedade dele fizeram, mas olhá-Io em sua subjetividade, haveria a possibilidade de humanização permanente das relações e da sociedade. É o que faz o verdadeiro humanista: dá sempre ao outro e a si mesmo uma nova chance e aposta na humanidade.

O apelo do outro, assim como o meu apelo ao outro, é silencioso, raramente traduzido em palavras, é um desvelamento da alma que se manifesta no olhar e desperta medo, porque o outro me chama sem máscaras com aquilo que ele é e almeja ser comigo. E eu deverei responder com todo o meu ser, com o que sou e com o que almejo ser com ele,
0 amor é o mistério que faz com que eu me perca, sem defesas, no outro e o outro em mim, mas, ao nos perdermos um no outro, por sortilégio do amor, nos encontramos e nos transformamos em liberdade e criação.

Narcisismo
Narcisismo descreve a característica de personalidade de paixão por si mesmo.

A palavra é derivada da Mitologia Grega. Narciso era um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco, que desesperadamente o desejava. Como punição, foi amaldiçoado de forma a apaixonar-se incontrolavelmente por sua própria imagem refletida na água. Incapaz de levar a termos sua paixão, Narciso suicidou-se por afogamento.

Freud acreditava que algum nível de narcisismo constitui uma parte de todos desde o nascimento [1].

Andrew Morrison afirma que, em adultos, um nível razoável de narcisismo saudável permite que um indivíduo equilibre a percepção de suas necessidades em relação às de outrem [2].
Em psicologia e psiquiatria, o narcisismo muito excessivo é o que dificulta o individuo a ter uma vida satisfatória, é reconhecido como um estado patológico e recebe o nome de Transtorno de personalidade narcisista. Indivíduos com o transtorno julgam-se grandiosos e possuem necessidades de admiração e aprovação de outras pessoas em excesso.

Os termos "narcisismo" e "narcisista" são frequentemente utilizados como pejorativos, denotando vaidade ou egoísmo. Quando aplicado a um grupo social, o conceito tem relação com o conceito de elitismo.