Educação



Arte: Ana Fucs, Leandro Monteiro, Luciana Nunes, Mara Sampaio, Mariana Castro, Mariana Nobre, Vanissa Wanick

Texto: Daniel Biasetto
Fonte: IBGE/Censo 2010







CARTA DE UMA PROFESSORA PARA A REVISTA VEJA







 DEDICADO PARA TODOS OS PROFESSORES E PALHAÇOS DESTE PAÍS
 
Todos os que padeciam de tristezas agudas ou crônicas eram indicados pelo médico do lugar para que assistissem ao tal artista que possuía o dom de eliminar angústias.
Um dia, porém, um morador desconhecido, tomado de profunda depressão, procurou o doutor.

O homem nada disse, levantou-se, caminhou em direção à porta, e quando já estava saindo, virou-se, olhou o médico nos olhos, e sentenciou:
"não posso procurar o circo... aí está o meu problema : eu sou o palhaço".
Tenho a impressão de que ensino no vazio (e sei que não estou só nesse sentimento) porque, depois de formados, meus ex-alunos parecem que se acostumam rapidamente com aquele mundo de iniqüidades que combatíamos juntos.
Aprenderam rindo mas não querem passar o riso à frente e nem se comovem com o choro alheio.
Digo isso, até em tom de desabafo, porque vejo que cada dia mais meus alunos se gabam de desonestidades.
Os que passam os outros para trás são heróis e os que protestam são otários, idiotas ou excluídos, é uma total inversão dos valores.
Vejo que alguns professores partilham das mesmas idéias, e as defendem em sala de aula e na sala de professores e se vangloriam disso. 
  
"O importante professor é que o cara embolsou milhões", disse-me um; outro: "daqui a pouco ninguém lembra mais, no Brasil é assim, e ele vai continuar sendo o Zeca, só que um pouco mais rico", todos se entreolharam e riram, só eu, bobo que sou, fiquei sem graça.

O pior é quando a gente se dá conta de que no Brasil é assim mesmo, o que vale é a lei de Gérson: "o importante é levar vantagem em tudo". ( Lei de Gérson...dá para rir...)
A pergunta é : Sem trabalho produtivo é possível, usando a lógica, que todo mundo ganhe ? Sem o trabalho honesto, para alguém ganhar é óbvio que alguém deverá perder:
é enrolar a aula fingindo que a matéria está sendo dada;
é fingir que a apostila está aberta na matéria dada, mas usá-la como apoio enquanto se joga forca, batalha naval ou jogo da velha;
é marcar só o gabarito na prova em branco, copiado do vizinho, alegando que fez as contas de cabeça;
é comprar na feira uma dúzia de quinze laranjas;
é bater num carro parado e sair rápido antes que alguém perceba;
é brigar para baixar o preço mínimo das refeições nos restaurantes universitários, para sobrar mais dinheiro para a cerveja da tarde;
é arrancar as páginas ou escrever nos livros das bibliotecas públicas;
é trocar o voto por empregos, pares de sapato ou cestas básicas;
é fraudar propaganda política mostrando realizações que nunca foram feitas (assim como costuma fazer a dupla sertaneja Lula e Duda).
"Quando um país perde, todo mundo perde.
E não adianta pensar que logo bateremos no fundo do poço, porque o poço não tem fundo.
Parafraseando Schopenhauer:
Não há nada tão desgraçado na vida da gente que ainda não possa ficar pior."
Felizmente há os descontentes, os lutadores, os sonhadores, os que querem manter o sol aceso, brilhando e no alto.
A luz é, e sempre foi, a metáfora da inteligência.
No entanto, de nada adianta o conhecimento sem o caráter.
Acho que o mundo (e, sobretudo, o Brasil) precisa mais de gente honesta do que dos pseudo literatos, historiadores ou matemáticos.
De professores, espera-se mas que discurso de bons modos, espera-se que mereçam o salário que ganham (pouco ou muito) ministrando a honestidade.
A honestidade não precisa de propaganda, nem de homenagens, precisa de exemplos.
Quem plantar joio, jamais colherá trigo.
Quando reflexões assim são feitas, cada um de nós se sente o palhaço perdido no palco das ilusões.
A gente se sente vendendo o que não pode viver, não porque não mereça, mas porque não há ambiente para isso.
Quando seria de se esperar uma vaia coletiva pelo tombo, pelo golpe dado na decência, na coerência, no senso de respeito, vemos a população em coro delirante gritando "bis" e, como todos sabemos, um bis não se despreza.
Enquanto isso, o Brasil de irmã Dulce, de Manuel Bandeira, do Betinho, de Clarice Lispector, de Chiquinha Gonzaga e de muitos outros heróis anônimos que diminuíram a dor desse país com a sua obra, levanta-se, caminha em silêncio até a porta, vira-se e diz:
Gostaria de pode citar o autor deste maravilhos e verdadeiro texto, mas desconheço.
Talvez seja mais um dos tantos palhaços anonimos por este Brasil afora.
Agradeço a ele em nome de todos os que ainda acreditam, sonham e tentam fazer um Brasil melhor,mais decente e honesto!
(Siegmar)







O FRACASSO ESCOLAR

'Fracasso escolar é o fracasso do sistema educacional'. Pesquisa aponta que só 25% saem da escola sabendo ler e escrever.
O fracasso escolar não tem uma única causa, mas um conjunto de fatores que concorrem para que tal situação ocorra. Tão importante quanto resolver este problema é a conscientização de que é uma situação real, atual e que desestrutura toda e qualquer política pública que tenha conexão com o sistema educacional.
As evidências deste fracasso estão amplamente divulgadas quando observamos o dramático quadro de uma juventude que se entrega às drogas, de crianças dormindo ao relento e esmolando pelas esquinas, de superlotações de presídios, de violência familiar e dentro das escolas e de tantas outras situações de pura ação antissocial que preenchem os espaços dos jornais, rádios e televisões ou acontecem nas calçadas e ruas por onde passamos ao obedecer nossas rotinas de ir e vir pela cidade.
É evidente que não se pode atribuir ao caos em que se encontra a sociedade nas suas relações com a Escola aos profissionais que atuam dentro destas instituições, mas, sim, a toda uma estrutura educacional “desalicerçada”de políticas públicas de estado alinhadas aos interesses e necessidades da Escola.
È natural que dentro da Escola, com todas as adversidades que envolvem esta instituição, as coisas não ocorram como deveriam e isto tem que ser também objeto de análise e reflexão.
Como qualificar um fracasso escolar?

A autonomia intelectual que a escola deveria garantir ao aluno não existe. A gente observa que os alunos concluem ensino fundamental e médio sem condições de fazer a leitura de um texto simples. Eles não compreendem as quatro operações fundamentais de forma que elas possam ser utilizadas na vida cotidiana. O que a gente aprende na escola nada mais é que a vida escrita em uma outra linguagem. Não saber interpretar este esquema de representação desvincula a escola da vida. O que se aplica na escola não se aplica na vida, o que se aprende na vida não serve para interpretar na escola. Está aí o grande fracasso. E isso piora a cada ano.
E de quem é a culpa pelo fracasso?
Do aluno, da escola ou dos pais?

Em vez de fracasso, prefiro dizer que a responsabilidade pelo sucesso de uma criança na escola é dos nossos governantes e das famílias naquilo que teriam como direito de exigir dos governantes.
Quais as principais causas para o fracasso de um aluno na escola?
Um grande número de alunos que estão concluindo o ensino fundamental sem condições de ler e escrever e operar as quatro operações tiveram interferência por variáveis que vão desde a qualidade do ensino, e esta questão é a primordial, aliado à desestrutura familiar, muito mais decorrente de fatores socioeconômicos e, em uma escala menor, de problemas de saúde física, emocional.
Problema emocional, cognitivo e pedagógico tudo misturado.  Para um aluno ter desempenho razoável na escola são necessários desde a alimentação saudável até ter a condição emocional e cultural para levar a escola com a devida seriedade. Temos crianças mal alimentadas, famílias desestruturadas, um tremendo equívoco da função da escola pela população.
 Muitas vezes nem mesmo os professores sabem qual é o objetivo e o porquê de ter determinados conhecimentos. Família e estudantes também não sabem para que serve todo aquele conteúdo. A pessoa se pergunta: “Por que preciso saber história, geografia, equação?”. São tantos outros apelos na vida, existem tantas outras coisas interessando as crianças e adolescentes, que fica difícil para escola e o conhecimento tomar um lugar de destaque na mente do jovem.
A parceria entre escolas e família é fundamental. Mas como uma escola pode ser parceira de todas as famílias de centenas de alunos?
A familia  deveria se aproximar mais da escola e a escola das famílias. É preciso que alguém ensine porque os pais precisam respeitar o professor, dar a devida importância para as tarefas escolares, ensinar os filhos a terem cuidado com o patrimônio das escolas, e sobre a importância dos livros. Se os pais não sabem, eles não vão saber por que fazer e como fazer. Muitas vezes o professor diz para os pais que o filho está tendo problemas de aprendizagem. Mas os pais não sabem o que fazer. Um responsabiliza o outro.
Além disso, as políticas educacionais vêm de cima para baixo sem uma base segura. Quem ocupa os cargos mais importantes politicamente na educação nunca é um educador, mas um advogado ou economista, que certamente não tem a sensibilidade, percepção e visão de um educador.
Professores no limite.

Iniciando pelo isolamento a que está submetido o professor dentro de sua sala de aula. Isolamento determinado pela carência de profissionais especialistas em educação, pessoas preparadas, como é o caso, por exemplo, dos Orientadores Educacionais e Coordenadores Pedagógicos, que se constituiriam, então, em elementos de conexão entre os componentes da estrutura escolar e entre estes e as famílias dos estudantes. Um quadro melhor descrito das realidades de cada estudante permitiria aos professores trabalhar com mais eficiência as diferenças entre os alunos e alcançar melhores resultados, tanto no plano de ensino e aprendizagem como na complementação de uma educação que inicia na casa do estudante e se reforça na escola.
Pode-se perceber, então, que há uma deficiência estrutural da/na Escola o que deixa o professor no front dos conflitos sociais do entorno da instituição escolar e transportados para dentro desta instituição. Aumentado o volume de responsabilidades e reduzido o seu poder de atendê-las, o professor termina por adoecer, como é ocaso da Síndrome de Burnout, que é o resultado de uma exaustão emocional provocada por estresse profissional. O termo Burnout é uma composição de burn=queima e out=exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. A autoconfiança, o humor e a concentração atingem índices de redução extremamente comprometedores e fazem com que o Professor pareça irresponsável e desinteressado por seu trabalho, mas na verdade está acometido de uma doença provocada por fatores externos e que não podem ser controlados por ele, pois a causa está em uma estrutura/conjuntura educacional, social, econômica e política, tendo que se submeter a atendimentos físicos e mentais, mas apenas nos limites de sua disponibilidade financeira.
 
E as políticas públicas para Educação?

Senhores governantes, se não fizer parte das prioridades de seus governos o cuidado com a Educação, se não valorizarem os profissionais em Educação, se entregarem a Educação a iniciativa privada tirando a oportunidade da maioria da população de terem acesso a Escolas Públicas de qualidade, estarão aprofundando as diferenças entre os pobres e os ricos, mais do que isto, estarão eliminando a maior parte da classe média, deixando o país a mercê de interesses estranhos e de pura conveniência econômica.
Quando a liderança dos movimentos dos educadores for efetivamente do grupo, quando todos estiverem efetivamente unidos por ideais nobres de construção de políticas públicas para a educação, políticas sérias, sem sectarismos, sem ideologização partidária, sem disputa de poder interno da categoria que mais a fragmenta do que soma esforços em razão do bem comum, então teremos resultados positivos e poderemos dobrar a resistência dos conservadores, retrógrados, neoliberais tupiniquins que não colaboram em nada com o país, mas anulam nossa maior riqueza: o nosso conhecimento.
Quando aprenderão Presidente, Ministros de Estado, Governadores, Secretários de Educação e outros tantos dirigentes, que, detendo o conhecimento, viabilizando seu crescimento, teremos as armas do desenvolvimento ao nosso lado. Não é por outro motivo que os países que nos controlam economicamente são avessos a políticas educacionais que nos coloquem em condições de competitividade igual e, lamentavelmente, em nome da governabilidade, da contenção de despesas, vamos desconstruindo os caminhos que nos conduziriam à liberdade e democracia sem adjetivos restritivos!
As políticas públicas para educação, além do esforço dos governantes, deverá contar com a efetiva participação da sociedade, pois o conjunto lar/escola terá que ser ouvido e atendido em suas demandas.
Pelo exposto, é fácil entender a importância de uma política educacional que possibilite um aprendizado que não seja castrador da imaginação e da criatividade inerentes a qualquer criança. É fácil se concluir que, se houver interesse real do Estado em dar à sua população uma educação de qualidade, deverá rever todo o trabalho pedagógico das escolas; o tratamento dado ao professor/educador; as condições em que se dá o ensino, isto é, a infra-estrutura das escolas.
Disciplina à beira do caos.
Os alunos estão sem limites em sala de aula, em outros setores da Escola e principalmente em casa. As lições de liberdade, democracia e ética se perdem pelos descaminhos da falta de limites.
A escola termina por ser o desaguadouro de todos os conflitos sociais. Neste local se encontram todos os problemas não resolvidos em casa e na rua, acumulam-se frustrações de desejos não atendidos pelos pais e exigidos pelos filhos que muitas vezes, em momentos anteriores, tiveram suas vontades satisfeitas mesmo diante de dificuldades extremas experimentadas pelos pais. Segundo alguns psicólogos, esta falta de limites leva a um enorme problema de indisciplina, acentuado desrespeito e, não poucas vezes, ao uso de drogas como forma de fuga de uma realidade que não está ao seu alcance.
Alunos agridem professores ao mais leve sinal de discordância em relação as atitudes destes. Agridem-se uns aos outros, os recreios tornaram-se locais de enorme conflito ao ponto de algumas escolas suprimirem os recreios para evitarem atos de violência nos pátios e corredores.
Os professores, neste quadro de violência, também se tornam mais agressivos como compensação às agressões sofridas.
O Pedagogo Fernando José de Almeida, em artigo da Revista Nova Escola, Edição 221, assim se manifesta:
“... Durante minha trajetória, vi muitas coisas belas, mas outras nem tanto - como a violência, que transborda em muitas escolas. Esse fenômeno - e seus modos de enfrentamento - é o tema deste primeiro artigo. Sei que nas escolas são comuns paredes riscadas, muros pichados, chicletes colados sob o tampo das carteiras e vidros quebrados, além de agressões verbais - com apelidos maldosos - e físicas entre a garotada na hora do recreio e da saída. Fatos desse tipo estão presentes em unidades de ensino de qualquer rede ou país: Brasil, França, Estados Unidos, Finlândia... Os níveis são diferentes - vão da ofensa sutil e fina como um bisturi à aniquilação escancarada como uma bomba.”

O ciberespaço que poderia ser nosso auxiliar nestas questões disciplinares, termina por ser um inimigo, pois, sem ser utilizado de forma adequada pela escola ou simplesmente não utilizado, passa a ser um centro desorganizado de informações onde os sítios de relacionamento se prestam, na maioria das vezes, para transmitir comportamentos inadequados, provocações entre pessoas e/ou grupos, deixando de cumprir o importante papel globalização do conhecimento em um mundo sem fronteiras, mas encaminhado para conflitos que levam a ações de indisciplina ou de puro vandalismo.

Enfrentando o problema.
Corrigir esta trajetória é possível desde que, assumido o fracasso, busquemos o fortalecimento dos educadores e o apoio dos educacionistas. Os educadores terão que ser mais do que simples trabalhadores em educação no sentido que se quer dar, isto é, educador não é um simples operário, pois tem a tarefa de viabilizar a construção de conhecimentos e competência para que crianças, jovens e adultos visualizem uma possibilidade de futuro promissor, onde liberdade, democracia e oportunidade de uma vida saudável e digna sejam metas reais e atingíveis.
O centro das políticas públicas tem que ser o homem e devem nascer dos desejos e anseios da sociedade e desenvolvidas pelos governantes, que para isto são escolhidos pelo voto popular. Se educação e saúde estiverem nesta frente de ações, todas as demais necessidades da população serão naturalmente atendidas, principalmente as demandas econômicas que deverão ser acessórios e não carro chefe destas políticas, para que o bem estar social, priorizado, viabilize desenvolvimento e não apenas crescimento.
Internamente, nas escolas, será necessária uma gestão diferente da que atualmente ocorre. Profissionais certos e qualificados no lugar certo: professores protegidos para realizarem seu trabalho como educadores; os conflitos dos alunos no ambiente extra escola equacionados e atendidos por profissionais de fora da escola, como psicólogos, assistentes sociais e outros e os que ocorrem no ambiente escolar, independentemente da sua origem, atendidos pelos Orientadores Educacionais, Pedagogos, Psicopedagogos que, embora existentes, não são utilizados. Os professores deverão ter a disponibilidade de uma educação continuada para que possam acompanhar os avanços pedagógicos e tirar proveito destes avanços para qualificarem os resultados em sala de aula.
É urgente que haja qualificação dos Cursos de Formação de Professores, pois, com exceção de algumas Universidades, há uma proliferação de Cursos que acentuam o aprendizado de conteúdos e abrem mão de uma formação no sentido de uma prática reflexiva.
Pergunta Perrenoud: “por que formar professores para que possam refletir sobre sua prática?”. Como resposta, coloca uma série de motivos: “Como motivos, podemos esperar que uma prática reflexiva: compense a superficialidade da formação profissional; favoreça a acumulação de saberes de experiência; propicie uma evolução rumo à profissionalização; prepare para assumir uma responsabilidade política e ética; permita enfrentar a crescente complexidade das tarefas; ajude a vivenciar um ofício impossível; ofereça os meios necessários para trabalhar sobre si mesmo; estimule a enfrentar a irredutível alteridade do aprendiz; aumente a cooperação entre colegas; aumente a capacidade de inovação. (Perrenoud,P.A Prática Reflexiva no Ofício do Professor – Profissionalização e Razão Pedagógica.Artmed. 2002,p.48.)
Para que todos os remédios sejam eficientes e que a saúde da educação dê mostras de franca recuperação, faz-se necessária uma ação integrada entre Educadores e Educacionistas, como propõe o Senador Cristovam Buarque, unindo todos os interessados em uma ação política clara e responsável, mesmo que tenhamos que modificar o lema da bandeira para EDUCAÇÃO É PROGRESSO, no lugar de ORDEM E PROGRESSO!

                            Veja o vídeo:


EDIVANMENDES
E
DIÁRIO DA MANHÃ/PELOTAS
 


Projeto Politico Pedagógico
 Como elaborar



O que é o projeto político-pedagógico (PPP)


O PPP define a identidade da escola e indica caminhos para ensinar com qualidade.
Toda escola tem objetivos que deseja alcançar, metas a cumprir e sonhos a realizar. O conjunto dessas aspirações, bem como os meios para concretizá-las, é o que dá forma e vida ao chamado projeto político-pedagógico – o famoso PPP. Se você prestar atenção, as próprias palavras que compõem o nome do documento dizem muito sobre ele:


- É projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo.
- É político por considerar a escola como um espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão individual e coletivamente na sociedade, modificando os rumos que ela vai seguir.


- É pedagógico porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino e aprendizagem.
Ao juntar às três dimensões, o PPP ganha à força de um guia, aquele que indica a direção a seguir não apenas para gestores e professores, servidores, alunos e famílias. Ele precisa ser completo o suficiente para não deixar dúvidas sobre essa rota e flexível o bastante para se adaptar às necessidades de aprendizagem dos alunos. Por isso, dizem os especialistas, a sua elaboração precisa contemplar os seguintes tópicos:


- Missão

- Clientela

- Dados sobre a aprendizagem

- Relação com as famílias

- Recursos

- Diretrizes pedagógicas

- Plano de ação.



Por ter tantas informações relevantes, o PPP se configura numa ferramenta de planejamento e avaliação que você e todos os membros das equipes gestora e pedagógica devem consultar a cada tomada de decisão. Portanto, se o projeto de sua escola está engavetado, desatualizado ou inacabado, é hora de mobilizar esforços para resgatá-lo e repensá-lo. “O PPP se torna um documento vivo e eficiente na medida em que serve de parâmetro para discutir referências, experiências e ações de curto, médio e longo prazo”, diz Paulo Roberto Padilha, diretor do Instituto Paulo Freire, em São Paulo.


Como fazer o PPP da escola?
Segundo especialistas, a elaboração do projeto político-pedagógico precisa contemplar a missão, a clientela, dados sobre aprendizagem, relação com as famílias, recursos, diretrizes pedagógicas, plano de ação da escola.
Por ter tantas informações relevantes, o PPP se configura numa ferramenta de planejamento e avaliação que você e todos os membros das equipes gestora e pedagógica devem consultar a cada tomada de decisão.
Portanto, se o projeto de sua escola está engavetado, desatualizado ou inacabado, é hora de mobilizar esforços para resgatá-lo e repensá-lo.


Dicas práticas para elaborar o PPP
Certas estratégias facilitam a preparação, a revisão e o acesso da equipe ao projeto político-pedagógico:
- Não é preciso refazer a missão todo ano. Geralmente, ela dura de dois a cinco anos. Deve ser alterada quando a equipe percebe que os princípios já não correspondem às suas aspirações (os objetivos iniciais foram alcançados ou precisam ser modificados), a clientela é outra (aconteceram mudanças na comunidade) ou o contexto escolar teve alterações.

- Clientela, dados sobre a aprendizagem, recursos, relação com as famílias, diretrizes e plano de ação devem ser revistos e atualizados ao longo do ano e isso pode ser feito durante as reuniões pedagógicas e institucionais, nos encontros do Conselho Escolar e na semana de planejamento. Para tanto, a cada encontro, defina quem será o responsável por sistematizar os dados e inseri-los no PPP.

- A linguagem usada deve ser simples.

- O ideal é que o PPP seja montado em um arquivo eletrônico, no computador, e, depois de impresso, colocado em uma pasta arquivo para facilitar o acesso e as alterações durante o ano.

- Professores e servidores podem receber cópias do documento, quando possível, para que consultem sempre que surgirem dúvidas.

- É interessante elaborar uma versão resumida para entregar aos pais no ato da matrícula.

- Organizar o PPP em um fichário facilita o manuseio, a conservação e a revisão ao longo do ano.

Conheça detalhes de cada um dos tópicos indispensáveis do PPP e saiba onde obter as informações e a melhor forma de organizá-las.


Definição da missão (ou marco referencial)

O que é?
Conjunto dos valores nos quais a comunidade escolar acredita e das aspirações que tem em relação à aprendizagem dos alunos. Precisa responder a perguntas como: “Para nós, o que é Educação?” e “Que alunos queremos formar?” Também pode ser chamado de marco referencial.
Por que é importante?
Define a identidade da instituição e a direção na qual ela vai caminhar. Se um dos objetivos é formar pessoas críticas e autônomas, deve-se investir na gestão participativa e em projetos em que todos os segmentos tenham voz e assumam responsabilidades.


Onde buscar informações?
Duas boas referências são os planos municipal e estadual de Educação, quando existirem na rede. Contudo, usá-los como base não exime a escola de detalhar os próprios valores. É preciso que a equipe gestora ouça a comunidade para estabelecer com ela os princípios desejados.


Como fazer?
Os princípios e valores da escola devem ser discutidos em reuniões pedagógicas ou institucionais (com os servidores) e conselho escolar, conselho de classe e do grêmio estudantil. É papel do diretor, participar de todos esses encontros, levar material bibliográfico que possa embasar as discussões e registrar o que foi debatido. Depois disso, a direção também deve fazer a redação deste trecho do PPP, levando em consideração o que diz o plano estadual de Educação, quando existir, compartilhá-lo com toda a comunidade escolar e acolher sugestões e críticas.


Como apresentar no PPP?
Em um texto sucinto e objetivo, que comunique a identidade da escola com clareza a qualquer leitor do documento, seja ele professor, funcionário, pai ou aluno.


Quem faz bem feito?
O PPP deve ser construído sobre bases firmes como: a Educação popular, para estimular o protagonismo e a participação política; a Educação ambiental, para formar alunos preocupados com o ambiente em que vivem; e o respeito à diversidade, a fim de ter uma comunidade centrada no respeito às diferenças. Os docentes podem formar grupos de trabalho que, mensalmente, planeje ações que contemplem esses eixos.


Descrição da clientela

O que é?
Breve histórico da comunidade e da fundação da escola e um levantamento detalhado sobre as condições social, econômica e cultural das famílias.


Por que é importante?
Oferece informações para que a instituição elabore as diretrizes pedagógicas e defina a maneira pela qual vai se relacionar e se comunicar com a comunidade.


Onde buscar informações?
A melhor fonte é a ficha de matrícula, mas podem ser preparados questionários específicos ou feitas entrevistas com os pais.



Como fazer?
Paralelamente ao processo de elaboração da missão, o diretor deve reunir as informações de todas as fichas de matrícula (e de possíveis questionários complementares preenchidos pelas famílias), organizando-as em tabelas e gráficos por assunto (renda, escolaridade e profissão dos pais, cidade de origem, entre outros).
Para um resultado mais detalhado, podem-se dividir as informações sobre cada assunto também por séries e turmas. Tabulados e analisados os dados, é preciso apresentar o resultado parcial aos demais gestores e aos professores ainda que faltem etapas para a conclusão do PPP, de modo que todos conheçam a clientela atendida e possam pensar na melhor forma de desenvolver projetos pedagógicos e institucionais e se relacionar com as famílias.


Como apresentar no PPP?
Em tabelas ou gráficos que organizam os dados e ajudam na visualização das características importantes (como cidade de origem, faixa de renda, grau de instrução e profissão dos pais, religião e hábitos que cultivam). Eles devem estar acompanhados de textos analíticos. Vale lembrar que esta é uma parte do PPP que precisa ser revista periodicamente, pois pode haver mudanças na caracterização do público.


Quem faz bem feito?
“A diversidade é tanta, porem as diretrizes e o currículo presentes no PPP deve contemplar de maneira mais ampla a história e a cultura das etnias locais. Com isso, visamos elaborar projetos que valorizem a origem dos alunos e os conhecimentos que trazem de casa, tornando a aprendizagem mais significativa”.


Levantamento dos dados sobre aprendizagem

O que são?
Informações quantitativas sobre matrículas, aprovação, reprovação, evasão, distorção idade/série, transferências e resultados de avaliações.


Por que são importantes?
Compõem um retrato da aprendizagem na escola e permitem aferir a qualidade do ensino. “Por trás de cada número de evasão ou repetência, está um problema de ensino que precisa ser solucionado”.


Onde buscar informações?
Nos quadros de aprovação, reprovação e movimentação de alunos preparados para enviar ao Ministério da Educação (MEC) e à Secretaria de Educação, nos relatórios das avaliações externas e nas avaliações internas.
Como fazer?
Enquanto os dados sobre a clientela são tabulados (ou mesmo antes ou depois disso, caso julgue melhor), o diretor, junto com o coordenador pedagógico, deve reunir e tabular as informações sobre matrículas, aprovação, reprovação, evasão, distorção idade-série e transferências, e resultados de avaliações internas e externas. Aqui, também é necessário separar os dados em gráficos e tabelas (por assunto, séries e turmas), produzir textos analíticos sobre eles e depois compartilhar o material com o restante da equipe, a fim de permitir a localização de possíveis problemas e a definição de metas e ações.


Como apresentar no PPP?
Em tabelas ou gráficos por tema (como evasão e aprovação) e por disciplina (para mostrar a aprendizagem de uma área ao longo do tempo), acompanhados de análises.


Quem faz bem feito?
Uma das primeiras medidas que a equipe deve tomou ao começar a elaborar o PPP deve ser as planilhas de notas. “Onde poderá detectar baixos desempenhos dos alunos em dadas disciplinas e incluir no PPP projetos de apoio pedagógico no contra turno, por exemplo,”.


Estudo do relacionamento com as famílias

O que é?
A definição da maneira como os pais podem contribuir com os projetos da instituição e participar das tomadas de decisões.


Por que é importante?
A escola existe para atender à sociedade e a integração das famílias no processo pedagógico é garantida tanto pela LDB como pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).


Onde buscar informações?
Cada projeto deve prever um tipo de participação (entrevista com os pais, ajuda na pesquisa etc.). Porém é preciso consultar os instrumentos de identificação da clientela para analisar a viabilidade das propostas.


Como fazer?
Enquanto realiza os três primeiros levantamentos, o diretor também já pode ficar atento à maneira com que a escola se relaciona com as famílias dos alunos, por meio dos instrumentos de identificação da clientela e de conversas com as famílias, seja nas reuniões de pais, no conselho escolar ou mesmo em eventos. Já nos encontros com a equipe, o gestor deve conversar sobre como está à parceria hoje e o que se espera construir no futuro, reflexões que, em seguida, o próprio diretor formaliza em um texto escrito.


Como apresentar no PPP?
Descrição do vínculo que se pretende construir, estabelecendo metas para o fortalecimento do Conselho Escolar e a presença nas reuniões de pais.


Quem faz bem feito?
Um dos desafios a enfrentou na formulação do PPP é afinar a relação com as famílias. É preciso primeiro reformular a pauta dos encontros. “Em vez de falar só de problemas, passar a informar sobre os projetos e os avanços das crianças”.


Pesquisa sobre os recursos

O que são?
Descrição da estrutura física da escola (prédios, salas, equipamentos, mobiliários e espaços livres), dos recursos humanos (composição da equipe, qualificação e horas de trabalho) e financeiros (Programa Dinheiro Direto na Escola, via Secretaria de Educação etc.) e dos materiais pedagógicos.


Por que são importantes?
Os inventários deixam explícitas as condições do espaço de que a escola dispõe para desenvolver os projetos, a formação atual da equipe e a necessidade de capacitação e quanto está disponível para reforma, construção, formação, aquisição de material pedagógico etc.


Onde buscar informações?
É preciso fazer um levantamento de Campo detalhado a respeito de cada uma das áreas o que pode ser dividido com outros membros da equipe e solicitar ajuda da secretaria da escola para coletar os dados sobre os funcionários (quantos são o que fazem e a formação que têm).


Como fazer?
Para reunir todos esses números e informações, é recomendável solicitar ajuda dos colegas, como os profissionais da secretaria da escola (que podem ajudar com dados sobre composição da equipe, qualificação e horas de trabalho) e coordenadores pedagógicos (que sabem a estrutura e os recursos utilizados e almejados para os encontros de formação). O material coletado por eles deve ser somado às pesquisas que o próprio diretor conduz sobre os recursos físicos e financeiros e relatados também pelo gestor em um texto descritivo.


Como apresentar no PPP?
Por meio de relatos escritos sobre a estrutura física, de tabelas mostrando a quantidade e a qualidade dos recursos pedagógicos e humanos e de gráficos com as informações financeiras.


Estabelecimento de diretrizes pedagógicas

O que são?
Formam o currículo da escola e descrevem os conteúdos e os objetivos de ensino, as metas de aprendizagem e a forma de avaliação, por série ou ciclo e por disciplina.


Por que são importantes?
É baseado nelas que a equipe formula planos para implantar programas e projetos e produz indicadores sobre o impacto das ações. “As estratégias devem ser mantidas ou reformuladas de acordo com os objetivos da escola”.


Onde buscar informações?
Nos dados de aprendizagem da escola, nos referenciais curriculares da Secretarias estaduais, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), nos indicadores de qualidade e no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).


Como fazer?
Esta é uma seção do PPP que deve ser conduzida pela coordenação pedagógica e pelos professores da escola, que mantêm contato mais estreito com as necessidades de aprendizagem dos alunos. Assim, o levantamento sobre a situação atual e o cenário desejável pode começar já no início do processo. Depois, cabe ao coordenador responsável pela pesquisa redigir os objetivos e conteúdos de cada área ou disciplina, bem como as expectativas e metas de aprendizagem por série e ciclo, e compartilhar e ajustar o texto com toda equipe.


Como apresentar no PPP?
Em forma de planilha, contemplando todos os itens (conteúdos, metas etc.) por série ou ciclo e por disciplina.


Elaboração do plano de ação

O que é?
Lista completa com todas as ações e os projetos institucionais da escola para o ano letivo.


Por que é importante?
Com base em tudo o que foi pesquisado e estudado nas etapas anteriores do PPP, estabelece o que será feito (na prática) em benefício dos processos de ensino e de aprendizagem para atingir os objetivos definidos inicialmente.


Onde buscar informações?
Em projetos que deram certo em anos anteriores, na própria escola ou em outras unidades com as mesmas necessidades de ensino, em livros de didáticas específicas e junto à equipe técnica da Secretaria de Educação, DRE.


Como fazer?
Esta parte do PPP deve, em especial, ser debatida com a equipe gestora e professores. Assim, todos podem opinar sobre os projetos necessários ao processo de ensino e aprendizagem, conhecer o conjunto do trabalho que entrará em vigor na escola e oferecer ajuda e contribuição naquilo que for possível. Ao final dos debates, fica com os gestores a tarefa de redigir o texto que constará no projeto político pedagógico.


Como apresentar no PPP?
Os tópicos necessários em cada um dos projetos descritos são: objetivos, duração, profissionais responsáveis, parceiros, encaminhamentos, etapas e avaliação.


VAMOS FAZER O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA
Segundo especialistas, a elaboração do projeto político-pedagógico precisa contemplar a missão, a clientela, dados sobre aprendizagem, relação com as famílias, recursos, diretrizes pedagógicas, plano de ação da escola
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, toda escola precisa ter um projeto político pedagógico (o PPP, ou simplesmente projeto pedagógico). Esse documento deve explicitar as características que gestores, professores, servidores, pais e alunos pretendem construir na unidade escolar e qual formação querem para quem ali estuda. Tudo preto no branco. Elaborar um plano pode ajudar a equipe escolar e a comunidade a enxergar como transformar sua realidade cotidiana em algo melhor.
Se bem formatado, porém, o próprio processo de construção do documento gera mudanças no modo de agir. Quando todos enxergam de forma clara qual é o foco de trabalho da instituição e participam de seu processo de determinação, viram verdadeiros parceiros da gestão.              Fonte: Nova Escola


ALGUMAS DICAS PRÁTICAS PARA ELABORAR O PPP

Certas estratégias facilitam a preparação, a revisão e o acesso da equipe ao projeto político-pedagógico:


Não é preciso refazer a missão todo ano. Geralmente, ela dura de dois a cinco anos. Deve ser alterada quando a equipe percebe que os princípios já não correspondem às suas aspirações (os objetivos iniciais foram alcançados ou precisam ser modificados), a clientela é outra (aconteceram mudanças na comunidade) ou o contexto escolar teve alterações (introdução do Ensino Fundamental de nove anos ou a chegada da Educação Infantil ou de Jovens e Adultos). Esse trecho deve ser respaldado nos planos municipal ou estadual de Educação.


Clientela, dados sobre a aprendizagem, recursos, relação com as famílias, diretrizes, planos de ação devem ser revistos e atualizados ao longo do ano e isso pode ser feito durante as reuniões pedagógicas e institucionais, nos encontros do Conselho Escolar e na semana de planejamento. Para tanto, a cada encontro, defina quem será o responsável por sistematizar os dados e inseri-los no PPP.


A linguagem usada deve ser simples.


O ideal é que o PPP seja montado em um arquivo eletrônico, no computador, e, depois de impresso, colocado em uma pasta arquivo para facilitar o acesso e as alterações durante o ano.
Professores e funcionários podem receber cópias do documento, quando possível, para que consultem sempre que surgirem dúvidas.


É interessante elaborar uma versão resumida para entregar aos pais no ato da matrícula.


Organizar o PPP em um fichário facilita o manuseio, a conservação e a revisão ao longo do ano.
Em seguida vamos tentar elaborar um passo a passo para que você conheça com detalhes cada um dos tópicos indispensáveis do PPP e saiba onde obter as informações e a melhor forma de organizá-las.